A fábula da galinha
Conheço pessoas com muita dificuldade de se adaptar e basta ouvir a palavra mudança para sentirem um desconforto de doer até o fio do cabelo. Já outras conseguem, ao menos aparentemente, transformarem-se na mudança. São como camaleões a trocar de cor de acordo com as circunstâncias. Essas observações nunca me. . .
Look do dia
Nunca fui fã de moda. Não sei se pelo fato de ser do Rio de Janeiro, onde moda é rabo de cavalo, sandálias Havaianas e canga amarrada na cintura, com um vestidinho na bolsa de palha para emendar em algum evento pós-praia. Ou um top de neoprene para segurar. . .
Notre “drame” de Paris
Segundo o dicionário Larousse, um dos mais conceituados da língua francesa, tragédia é um evento funesto, terrível. Mesmo aqueles em quem não foi despertada nenhuma empatia por ver destruída uma parte considerável da história – não somente de um país, mas da humanidade -, não podem negar : o. . .
Perspectiva
Por definição, perspectiva seria a maneira com a qual se analisa determinada situação. Costumamos traduzir também como ponto de vista. Olhamos para uma situação bem específica e damos nossa própria representação. A nossa visão de mundo passaria então por nosso DNA e também pelas múltiplas identidades sociais que desempenhamos.. . .
O sentido da vida
Estava eu parada na Place de la République, acompanhando uma manifestação democrática e tranquila contra um determinado candidato a presidente da República Federativa do Brasil, quando aproxima-se de mim uma moça com uma bandeira da extinta União Soviética enrolada no pescoço. Ao mesmo tempo, outra aparece e me oferece. . .
Meu pequeno Louvre
Por que as lágrimas não apagam fogo? Choraram milhares. Talvez tenha chegado a milhões. A cena da noite no último domingo na cidade do Rio de Janeiro chegou a Paris das mais variadas formas. E ainda estava impregnada em sua mente. Os irmãos, companheiros das visitas frequentes durante a. . .
Tempo
Muito já se falou sobre essa unidade regida pelo deus Chronos. Não sei se pela leitura tardia de um dos maiores best-sellers da humanidade, “Uma breve história do tempo”, do célebre físico Stephen Hawking, a passagem das horas como medida da transformação da vida me tem feito companhia nas. . .
O resgate
Por vezes me ponho a pensar se todo mundo reflete sobre a cidade na qual mora. Alguém se dá conta deste fato aparentemente corriqueiro em algum momento? Sou afeita a essas digressões. Como vim de um lugar onde há paisagem de cartão-postal, eu não só morava, mas deslumbrava-me e. . .
Coisas universais
Criada no Engenho Novo, um subúrbio colado ao Méier no coração da Zona Norte carioca, em tempos pré-globalização, pude perceber claramente e desde cedo o quanto o deslocamento geográfico é capaz de alterar a visão de mundo de uma criatura. Minha mãe, sábia de uma forma quase instintiva, pois. . .
Com o céu azul pegando fogo
O céu parisiense irradia um azul celeste a ponto de ofuscar os olhos. Pego os óculos de sol e parto para desfrutar dos trinta graus Celsius em Paris. A sensação térmica é o equivalente a 40 graus no Rio de Janeiro. Digo em termos de beirar o insuportável. Porque a. . .
A vida não tem juiz de vídeo
A Copa do Mundo é um negócio contagiante. Mesmo o mais desligado dos desligados em relação ao que rola nos gramados acaba não resistindo ao clima de festa, brincadeira e, arrisco dizer, até de um certo patriotismo. E nem refiro-me só ao Brasil, país no qual os grandes jogadores. . .
Jovem Margarida
Conversando outro dia com um amigo morador de Lisboa, comentávamos o quanto gostamos de algumas marcas características das mudanças de estação na Europa. Como não temos isso de forma evidente nos trópicos, acabamos por nos regalar com os pequenos sinais da primavera estabelecendo-se. Aqui em Paris , por exemplo,. . .
Bonjour Paris
Querida Paris Acabo de acordar com o pessoal lá do Rio querendo saber como estou. Aí fiquei sabendo que foste ferida outra vez com esse infortúnio humano chamado violência. É lamentável alguém tão bonita como você ser atacada na sua essência. Porque foram atingir, mais uma vez, a sua. . .
Eu não pertenço a Paris
Como de costume, fui marcada recentemente em um texto sobre “o alto preço de viver longe de casa” (sic). Os amigos, sempre bem intencionados, lembram dos expatriados quando encontram todo tipo de escrita a respeito de morar fora. Até costumo apreciá-las, desde que não me venham com generalizações. Fale. . .
Pedaços de ‘nozes’
De qual massa nós somos feitos? Somos um resultado predestinado do determinismo genético ou uma configuração construída pelo ambiente no qual nascemos, crescemos ou vivemos? E as pessoas ao nosso redor? Quanto elas têm de influência sobre nossa composição de ser vivente, num planeta tão diverso, mas ao mesmo. . .
E nao é que a neve existe?
“Seca-neve” foi o apelido carinhoso ganho por mim no último Natal. Com um pedaço da família na Polônia, parte dos entes queridos teve a boa ideia de passar a data no frio e fomos para a casa do primo expatriado na Cracóvia. Como só pude ir em cima da. . .
Movidos a meteorologia
No Rio de Janeiro funciona assim: choveu, ruas desertas. Compromissos cancelados. Festas vazias. Prejuízo nos bares. Dia cinza não combina com o azul do Oceano Atlântico banhando o entorno da Cidade Maravilhosa e muito menos com o espelho d’água da Baía da Guanabara, totalmente opaco sem o brilho do. . .
Quando Paris fica vazio
Enquanto as notícias de Paris mundo afora têm sido sobre as cheias do rio Sena, passeio sob o céu cinza vendo as inundações e, não sei por que, só penso em Samuel Becket. O dramaturgo era irlandês, mas radicou-se na França e morreu em Paris no ano de 1989.. . .
‘Gentes’
Tenho um primo casado com uma polonesa. Ela aprende português e, certa feita, ao hesitarmos a entrar num elevador, ela nos tranquilizou gentilmente “Podem entrar todos. Cabem 5 ‘gentes'”. A parte brasileira da família caiu na gargalhada e ela, meio rindo e meio desanimada perguntava “Ai, o que falei. . .
O que Simone diria?
Como se diz em “malandrês” carioca, Madame Deneuve vacilou legal. A eterna “belle de jour” não assinou sozinha o manifesto contra o radicalismo dos movimentos contra o assédio sexual a mulheres, mas ela era o nome de maior exponencial. Sem ela, provavelmente o texto publicado no jornal Le Monde. . .
Intimidade
Reza a lenda que durante uma entrevista, a repórter perguntou ao então presidente Jânio Quadros se poderia lhe fazer uma pergunta íntima. Ele, com seu raciocínio rápido e jeito excêntrico, teria respondido “Minha cara, intimidade só leva a duas coisas: filhos e problemas. Como não pretendo ter nenhum dos. . .
Feliz além do ano que vem
A dualidade fim e começo compõe a carga genética do dia 31 de dezembro no mundo ocidental. Somos seres sociais e sociáveis, portanto, poucos são aqueles que realmente conseguem passar pela data imunes a qualquer ritual. Claro, existem os discursos. Todos nós já ouvimos coisas como: “É um dia. . .
Crônica rápida no metrô
A senhora míope é irreverente e está maquiada. A armação que ela usa é quadrada de um lado e redonda do outro, e eu desejo aqueles óculos. Um moço de barba me faz pensar nos homens que ainda não se depilam. Suspiro por dentro : o mundo ainda tem. . .
Sorria e acene
Eu não acredito em reencarnação pura e simples. Não acho que morramos e vamos para um lugar tipo uma sala de espera de repartição pública, onde São Pedro, ou o Capeta, vá nos chamar por uma senha qualquer e desenvolver conosco um planejamento estratégico para a próxima vida. Mas. . .
Um tigre no coração de Paris
Era sexta-feira de novembro. Um tigre escapa da jaula do circo e sai andando pelas ruas de Paris. Não, não foi ficção. O fato real logo inflamou as redes sociais. Alguns conhecidos viram o animal e contaram a sensação de incredulidade que a cena lhes acometeu. Mas enquanto passeava. . .
Falar por falar
Chama-se “Quatro Paredes” um poema musicado em forma de sambinha, cantado pela Marisa Monte. Um dos versos fala de como seria muito bom entendermos o vocabulário uns dos outros através de palavras que não existem no dicionário. A canção me foi apresentada por uma amiga muito querida – e. . .
Todos os caminhos levam ao outono
A crônica quase não saiu. Culpa do amanhecer deslumbrante me chamando pela janela. Paris tem destas coisas. A gente está numa manhã de sábado, cinzenta e gelada, fazendo uma prova de 4 horas no auditório da faculdade e, à tarde, já se está festejando o amor e a amizade. . .
Tempo condicional
Um dia peguei um avião de Paris pra Lisboa. Por conta dos fusos horários distintos, e horários de verão desacertados, cheguei à capital portuguesa na mesma hora na qual parti da Cidade Luz. Uma sensação deliciosa – e muito louca -de ter voltado no tempo arrebatou-me. Um pensamento nada. . .
A amiga que mora em Paris
Ter um amigo morando em Paris deve ser bom. Nunca tive. Tive melhor: uma amiga que não morava aqui, mas tinha um estúdio na cidade, que ela emprestava aos amigos, e o qual tive o privilégio de desfrutar, sem nada pagar, por algumas vezes. Hoje, faço eu o papel. . .
Bom humor, mau humor
No filme “Um lugar na plateia” (Fauteuils d’orchestre, da diretora Danièle Thompson veja aqui o trailler ) a personagem interpretada por Valérie Lemercier é uma atriz estressada com a vida. A alegoria do parisiense típico encarna não apenas nela, mas em diversos personagens moldados no estereótipo do ser humano. . .
Fazendo amizade fácil
Amizade não se faz, se reconhece. Não lembro bem onde li essa frase. Pode ter sido tanto no parachoque de um caminhão quanto em algum livro de um célebre autor. Ou, quem sabe, trata-se do refrão de alguma muísca? Caso eu tivesse o alcance necessário de leitura desta crônica,. . .
Volta às aulas
Voltei a estudar. Não um curso informal, ou algo como uma língua ou piano (aliás, um sonho). Voltei à universidade. E não para fazer mestrado ou doutorado ou PhD, talvez mais condizentes com minha faixa etária. Voltei à sala de aula para uma licenciatura. A última vivência de caloura. . .
La Rentrée: quando entrar setembro em Paris
Foi no primeiro dia de setembro, da remota década de 90 do século passado, a primeira vez que pisei em Paris. Um sonho aparentemente distante para a garota proletária, de 20 e poucos anos e criada no subúrbio, tornava-se realidade graças a uma coisa chamada trabalho. Era uma época. . .
A Paris de cada um
Sentada na escadaria de acesso ao Panthéon, à espera de amigos brasileiros que, sem dados no celular, estão atrasados pois devem estar perdidos por Paris. Munida de um livro, sento-me no degrau mais alto para me recostar na coluna dórica. Abro o pequeno dicionário de citações de célebres franceses,. . .
Adaptação
Uma das mais frequentes perguntas direcionadas aos expatriados mundo afora é a clássica “E como está sendo (ou foi) a adaptação?”. Costumava colocar esta questão no conjunto das meras figuras de linguagem ilustrativas. Tipo fazer menção à meteorologia ao encontrar vizinhos no elevador ou perguntar se está tudo bem. . .
Alma Extraviada
– Eu não gosto de café, nem de samba e muito menos de futebol. Foi um engano eu ter nascido brasileira, acho… Disse-me a amiga carioca, moradora de Paris há alguns bons anos. Fiquei imaginando se isso é possível. Isso de nascer no lugar errado. Entre os espíritas, a. . .
A carta, a dedicatória e o bonde
Segundo dia do mês de agosto. Um mês no qual ninguém – me refiro aos moradores daqui – gosta de estar em Paris. Calor, tudo fechado (inclusive padaria e correio), 70% de todos parisienses de férias… Parto rumo a mais um dia de trabalho, mas antes verifico a caixa. . .
Somos todos turistas
Além de ter palmeiras onde canta o sabiá, minha terra tem um monumento muito visitado. E para chegar até o Cristo Redentor, uma das maneiras mais práticas é pegar o trenzinho que sobe até o topo do Corcovado, através de um trilho que atravessa a floresta. Em um dos. . .
Correndo atrás da cutia
Campo de Santana é o nome de um parque, no coração do Centro do Rio de Janeiro. Fica bem na Praça da República, cercado pelo Hospital Sousa Aguiar, pela casa do Marechal Deodoro da Fonseca e pela estação de trem principal da cidade, a Central do Brasil. Trata-se de. . .
E se nada der certo…
Estava eu ‘folheando’ as páginas da web brasileira e não consegui ficar incólume à notícia de uma escola de classe média-alta ter promovido o dia do “E se nada der certo?”. Os alunos foram vestidos de empregadas domésticas, lixeiros, porteiros e atendentes de lanchonete, entre outras profissões. E o. . .
O céu e o piano
Entro no táxi meio estabanada, com quatro bolsas, cheias do espólio de uma amiga em mudança para Portugal. O céu em Paris está azul como eu nunca vi por aqui. Nenhuma nuvem sobre nós nesta sexta-feira espremida entre um feriado e um fim de semana. Todos os parisienses estão. . .
A primavera na janela
Embora a primavera tenha andado um pouco chuvosa, na capital francesa sempre percebe-se a chegada da estação. O primeiro sinal são as árvores, cujas folhas verdes vivas vão vestindo-as da nudez invernal. O segundo sinal são umas florezinhas danadas de graciosas, que parecem ser objeto de decoração obrigatórios das. . .
Posse. Ou: “Eu já sabia, Macron”!
Domingo passado, tivemos o segundo turno das eleições francesas. O eleito foi Emmanuel Macron, que venceu Marine Le Pen, considerada um ‘perigo’ extremista para o país. A posse é hoje (14/05). As TVs já transmitem desde os primeiros minutos desta manhã de domingo cinzenta. (ok, manhã de domingo cinzenta. . .
O ar de Paris
Uma das primeiras coisas que me chamou atenção quando estive em Paris pela primeira vez foi uma latinha, estilo lata de sardinha, escrita “L’air de Paris’ (O ar de Paris) à venda em uma dessas típicas lojas de bugigangas típicas e souvenirs. Era início dos anos 1990, não havia. . .
Madame Eiffel e o voto na França
Acordar em dia de eleição sem poder votar. Eis minha primeira grande dor como expatriada. Não, não posso votar na França. Preciso morar aqui pelo menos por 5 anos até ter o direito de pedir uma cidadania, a qual nem sei se me interessa. Sim, ainda voto no Brasil.. . .
A gente perde a eleição, mas não perde o humor
Francês é discreto. Um atentado ocorreu há duas semanas e uma eleição presidencial começou há cerca de duas horas. Ou melhor, começou ontem nos consulados dos países mundo afora e na chamada France Outre-Mer, Martinica, Ilha da Reunião, Guadalupe, Guiana Francesa, espécie de colônias eternas da terra de Napoleão.. . .
Rapsódia do exílio voluntário
Mais um ano de exílio. Há exatamente três anos, atravessei um oceano munida de duas malas, uma mochila e um passaporte europeu, uma espécie de permissão para ‘lavar privada’ de forma legalizada. O que me trouxe até aqui, nem eu sei explicar bem. Talvez apenas uma vontade de experimentar. . .
A “RiodeJaneirização” de Paris
O olhar de fora – ou o olhar do estrangeiro – costuma entusiasmar os antropólogos. Estou longe de ser antropóloga. Muito menos domino algum campo de qualquer ‘ologia’. Sou apenas uma jornalista de meia idade que resolveu lançar-se numa vida de imigrante em um momento tardio – ou, no. . .
Sob o céu de Paris
Paris é uma mulher. A canção Ça c’est Paris, de Maurice Chevalier, é a prova. E eu acrescentaria: uma mulher surpreendente. Vejam só os senhores que hoje, dia 12 de março de 2017, em pleno inverno, esta bela cidade presenteia sua gente com um domingo ensolarado, de céu azul. . .
Elas, as francesas
Mulheres francesas não engordam. É o que diz o título de um best seller. Isso já seria motivo suficiente para eu babar de admiração por elas. Afinal, manter a silhueta comendo baguete com manteiga, quiche lorraine e tomando vinho é um sonho. Mas ao longo da vida, andei observando. . .
O primeiro post a gente nunca esquece
Sou jornalista e filha de professora. Escrevo desde que me entendo por gente. Mas este post tem um gostinho especial: marca o nascimento de um lindo projeto que vem sendo cozido há anos e agora está prontinho para sair do forno. Paris, Paris, Paris One day we’re gonna live. . .