A vida não tem juiz de vídeo

A Copa do Mundo é um negócio contagiante. Mesmo o mais desligado dos desligados em relação ao que rola nos gramados acaba não resistindo ao clima de festa, brincadeira e, arrisco dizer, até de um certo patriotismo. E nem refiro-me só ao Brasil, país no qual os grandes jogadores e conquistas do esporte bretão sempre contribuíram para fazer da pátria amada idolatrada mundo afora. Na França, as flâmulas tricolores já enfeitam as janelas parisienses após ‘Les Bleus’ (os azuis, apelido da seleção francesa) conquistarem vaga na semifinal.

Mas além das quatro linhas, a Copa do Mundo também pode ser inspiradora até do ponto de vista filosófico. Vejam os senhores essa novidade trazida por esta edição de 2018 : o tal árbitro de vídeo, ou VAR, por exemplo. Além de dar pano para a manga nas mesas redondas sobre se é mesmo eficaz ou se vai duplicar a possibilidade de roubo, a modalidade está gerando uma reflexão em clima de brincadeira.

Li inúmeras matérias sobre “E como seria se pudéssemos usar o VAR nas nossas vidas?”. Adepta do futebol-romântico, sempre me causou espécie esse negócio de usar a tecnologia em campo. O olho do juiz e até a sua falta de visão em algumas jogadas já mudaram a história da muitas possíveis vitórias ou derrotas. Do gol de mão de Maradona contra a Inglaterra em 1986 à camisa de Zico rasgada na grande área por um italiano em 1982, as injustiças de arbitragem levaram a sorrisos e lágrimas ao longo da história das Copas.

Mas me intriga a ideia de sonhar com um VAR na própria vida. Bicho, a vida não tem juiz. Muito menos um com telão na frente para rever o lance. A vida é como o futebol de outros tempos. A gente entra em campo para vencer. O adversário está lá para fazer a oposição, sem isso não haveria jogo. Nem ganhador. Os juízas com os quais nos deparamos no tempo regulamentar são analógicos. Aprenda: justo ou injusto. Varia. Roubando intencionalmente ou falhando sem querer, não se volta atrás de uma falta marcada, nem de um cartão vermelho ou muito menos de um impedimento. Quando estamos na área, se derrubar é pênalti, se o juiz não marcar é roubo. E se reclamar é pior, periga ganhar um cartão amarelo só para aprender a não lamentar e ir buscar o resultado. O placar ainda se conta pelo número de bola na rede. Esse negócio aí ao qual chamamos gol.

Portando, não gostaria de ver meu passado na tela de um vídeo para tentar consertá-lo. Gera minutos demais para os acréscimos e se tem uma coisa improdutiva da vida é perda de tempo. Prefiro o jogo rolando, o gol perdido ou feito no talento, no esforço ou na raça. Afinal, na Copa a gente ainda pode recuperar 4 anos depois. Já na vida, do apito final ninguém escapa com chance de voltar atrás…

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