A fábula da galinha

Conheço pessoas com muita dificuldade de se adaptar e basta ouvir a palavra mudança para sentirem um desconforto de doer até o fio do cabelo. Já outras conseguem, ao menos aparentemente, transformarem-se na mudança. São como  camaleões a trocar de cor de acordo com as circunstâncias.  Essas observações nunca me trouxeram nenhuma conclusão definitiva, exceto que o ser humano é mesmo um bicho curioso. E nem sei se isso é uma qualidade exclusiva humana, pois basta uma hora diante de qualquer documentário do Animal Planet para crermos que qualquer espécie  é dotada de peculiaridades capazes de nos surpreender. Alguns acreditam que outros. . .

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Look do dia

Nunca fui fã de moda. Não sei se pelo fato de ser do Rio de Janeiro, onde moda é rabo de cavalo, sandálias Havaianas e canga amarrada na cintura, com um vestidinho na bolsa de palha para emendar em algum evento pós-praia. Ou um top de neoprene para segurar o busto quando se joga vôlei e altinho na areia, ou para um surf no fim da tarde. De fato o Rio é um convite à naturalidade do corpo e dos cabelos.  Nunca pensei muito sobre moda enquanto vivi no Brasil, mas sei o quanto o tal “look do dia” atiça. . .

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Notre “drame” de Paris

Segundo o dicionário Larousse, um dos mais conceituados da língua francesa, tragédia é um evento funesto, terrível. Mesmo aqueles em quem não foi despertada nenhuma empatia por ver destruída uma parte considerável da história – não somente de um país, mas da humanidade -, não podem negar : o incêndio da Notre-Dame de Paris foi terrível. Assim como a desaparição em chamas do Museu Nacional do Rio de Janeiro, não faz muito tempo. Ou a funesta destruição, pelas mãos do exército Talibã, das estátuas de Buda, em Bamiyan, no Afeganistão, no início deste século. Tudo isso e tantos outros episódios. . .

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Perspectiva

Por definição, perspectiva seria a maneira com a qual se analisa determinada situação. Costumamos traduzir também como ponto de vista. Olhamos para uma situação bem específica e damos nossa própria representação. A nossa visão de mundo passaria então por nosso DNA e também pelas múltiplas identidades sociais que desempenhamos. O mundo ao nosso redor seria, então, o reflexo do que somos? Mas quem somos nós? Sou a irmã dos meus irmãos, a mesma que serve café aos moradores de rua parisienses, a jornalista que escreve sobre os acontecimentos em Paris.  E na minha identidade eu ainda sou filha da minha. . .

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O sentido da vida

Estava eu parada na Place de la République, acompanhando uma manifestação democrática e tranquila contra um determinado candidato a presidente da República Federativa do Brasil, quando aproxima-se de mim uma moça com uma bandeira da extinta União Soviética enrolada no pescoço. Ao mesmo tempo, outra aparece e me oferece um panfleto com uma foto de outro icônico político brasileiro, por quem já fiz muita campanha e dei muitos votos, mas pelo qual atualmente não nutro qualquer simpatia, principalmente por considerá-lo um tanto arrogante por não reconhecer os erros de seu partido. – Não obrigada – digo com um sorriso. Ao. . .

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Meu pequeno Louvre

Por que as lágrimas não apagam fogo? Choraram milhares. Talvez tenha chegado a milhões. A cena da noite no último domingo na cidade do Rio de Janeiro chegou a Paris das mais variadas formas.  E ainda estava impregnada em sua mente. Os irmãos, companheiros das visitas frequentes durante a infância, já sinalizavam através das ferramentas de comunicação on-line. Pareciam querer alertá-la, antes que pudesse saber por outras fontes. Assim como fazemos quando morre um ente querido. Mas as imagens transmitidas ao vivo pelas agências de notícias não a pouparam da dor. As lágrimas desceram sem chance de serem controladas. E. . .

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Tempo

Muito já se falou sobre essa unidade regida pelo deus Chronos. Não sei se pela leitura tardia de um dos maiores best-sellers da humanidade, “Uma breve história do tempo”, do célebre físico Stephen Hawking, a passagem das horas como medida da transformação da vida me tem feito companhia nas divagações. Estar em um país distante da terra natal, algumas horas à frente de eventos importantes e outras tantas atrás de outras referências, mexe com vários aspectos. A começar pela comunicação, pois é preciso tentar sincronizar o momento oportuno para o telefonema, a ligação por vídeo ou mesmo a resposta pelo. . .

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O resgate

Por vezes me ponho a pensar se todo mundo reflete sobre a cidade na qual mora. Alguém se dá conta deste fato aparentemente corriqueiro em algum momento? Sou afeita a essas digressões. Como vim de um lugar onde há paisagem de cartão-postal, eu não só morava, mas deslumbrava-me e distraía-me. Por essas ironias da vida, voei e acabei pousando em outro canto icônico deste planeta, onde os olhos também são presenteados a cada esquina. E, talvez por isso, gosto de refletir sobre o chão onde piso. Sobre a cidade na qual oficializei o status de residência. Eu não sei muito. . .

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Coisas universais

Vidente em Paris com nome sugestivo

Criada no Engenho Novo, um subúrbio colado ao Méier no coração da Zona Norte carioca, em tempos pré-globalização, pude perceber claramente e desde cedo o quanto o deslocamento geográfico é capaz de alterar a visão de mundo de uma criatura. Minha mãe, sábia de uma forma quase instintiva, pois foi cria de Éden, na baixada fluminense, mas crescida em uma família que valorizava a cultura e a educação, procurou ao longo da nossa infância nos transformar em pessoas antenadas. Uma de suas formas de nos fazer olhar o mundo além do umbigo foi promover nosso contato com pessoas e lugares. . .

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Com o céu azul pegando fogo

O céu parisiense irradia um azul celeste a ponto de ofuscar os olhos. Pego os óculos de sol e parto para desfrutar dos trinta graus Celsius em Paris. A sensação térmica  é o equivalente a 40 graus no Rio de Janeiro. Digo em termos de beirar o insuportável. Porque a cidade de Paris não foi feita para o verão. Pronto falei. A prefeitura faz seus esforços. Abriu até um “piscinão”, pegando uma parte do canal d’Ourcq para os banhistas. Mas nem me atrevi a entrar na água. Na placa com orientações sobre segurança está escrito “há risco de se adquirir leptospirose”.. . .

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