Tempo

Muito já se falou sobre essa unidade regida pelo deus Chronos. Não sei se pela leitura tardia de um dos maiores best-sellers da humanidade, “Uma breve história do tempo”, do célebre físico Stephen Hawking, a passagem das horas como medida da transformação da vida me tem feito companhia nas divagações.

Estar em um país distante da terra natal, algumas horas à frente de eventos importantes e outras tantas atrás de outras referências, mexe com vários aspectos. A começar pela comunicação, pois é preciso tentar sincronizar o momento oportuno para o telefonema, a ligação por vídeo ou mesmo a resposta pelo aplicativo de mensagens instantâneas.

Depois tem a teoria da relatividade. A gente nunca mais vê o mundo da mesma forma após deslocar-se do nosso ponto de origem.

Vejam os senhores, por exemplo, o sentido do mês de agosto: enquanto na língua portuguesa o oitavo mês do ano rima com desgosto, desse ladinho do Atlântico significa a pausa anual, as férias de verão, a temporada de desintoxicação da rotina.

Já quando entra o mês de setembro, vemos os parisienses novamente encarando a volta ao dia a dia. Os governantes retomam seus postos, o ano letivo recomeça e o vento geladinho do fim da estação mais quente já dá sinais a respeito do outono batendo à porta.

E como um relógio me despertando do sono, me vem de supetão um sentimento: restam no DNA da carioca resquícios da representação de setembro, quando de onde vim o mês é o prenúncio da primavera. Da renovação.

Enquanto por aqui a maior parte de meus concidadãos estão voltando à típica lamentação parisiense, eu ando feliz e esperançosa pela abençoada cidade na qual escolhi morar. Sorrio, coloco roupas frescas para sentir o vento, aguardo o recomeço das aulas com gostosa ansiedade.

Seja bem-vinda temporada do “estou sem tempo”. Fique à vontade frio outonal. Estaremos todos em breve abraçados por grossos casacos, contando os minutos para o próximo verão. E o tempo, esse moleque atrevido, vai continuar a nos desafiar constantemente, convidando-nos a transcender suas limitações. Porque o que o tempo quer da gente é que vivamos o aqui e o agora. Sem nos preocuparmos tanto com ele…

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