Movidos a meteorologia

No Rio de Janeiro funciona assim: choveu, ruas desertas. Compromissos cancelados. Festas vazias. Prejuízo nos bares. Dia cinza não combina com o azul do Oceano Atlântico banhando o entorno da Cidade Maravilhosa e muito menos com o espelho d’água da Baía da Guanabara, totalmente opaco sem o brilho do Astro Rei.

O carioca é movido a sol, proclama o dito popular. Mas quem não é? Basta viver numa cidade onde sol é artigo escasso e a gente já percebe a falta que faz uma fotossíntese. Conheço uma pá de gente que confessa associar seu estado de espírito, ânimo ou vontade de viver ao fator meteorológico.

Parece mesmo que ninguém gosta de chuva, essa injustiçada. Eu nunca fui assim. Não sei se por influência das poesias, músicas e cenas de filme nos quais a chuva é a personificação do lirismo. Fernando Pessoa tem uma frase que amo: “um dia de chuva é tão belo quanto um dia de sol. Ambos existem. Cada um como é”.

Sem chuva as plantinhas não cresceriam. Paris não ficaria tão cinza e não poderia mostrar ao mundo como é possível ser bela em 50 tons ao mesmo tempo. Sem chuva não haveria a possibilidade de usar os guarda-chuvas coloridos, a pintarem a paisagem urbana com suas estampas impermeáveis.

Talvez a chuva sirva para medirmos o quando somos realmente felizes. Por dentro. Em qualquer circunstância. Absolutamente. Ao mesmo tempo, a chuva nos concede a permissão de estarmos tristes, sem precisar justificar o porquê. Experimenta ficar triste em um dia ensolarado para ver só a pressão que é!

Há muitos dias, chove sem parar em Paris. E o excesso de tudo na vida cansa (assim como o excesso de sol por vezes cansa no Rio de Janeiro). As pessoas estão mais mal humoradas do que nunca. Mas venho em defesa da companheira chuva. Abro meu meu guarda-chuva junto com o sorriso, porque as nuvens das minhas tristezas nunca formaram-se fora de mim.

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