Chama-se “Quatro Paredes” um poema musicado em forma de sambinha, cantado pela Marisa Monte. Um dos versos fala de como seria muito bom entendermos o vocabulário uns dos outros através de palavras que não existem no dicionário.
A canção me foi apresentada por uma amiga muito querida – e das mais sensíveis da face da terra – além de ser a rainha da comunicação não-verbal. Ah! como gostaria de aprender com ela…
A linguagem verbal é algo de extrema importância entre os humanos. As palavras faladas e escritas, para o filósofo Descartes, funcionam como a representação da razão: aquilo que nos diferencia dos animais.
Somos, sim, os senhores soberanos da linguagem falada, escrita, imagética. As redes sociais estão aí mesmo para comprovar, com a chuva de likes – ou contestações por vezes deselegantes – a cada posicionamento nosso.
Quando Descartes, lá no século XVIII, associou a palavra à manifestação mais sublime da razão, certamente não imaginou o quanto o ser humano do século XXI seria capaz de dizer coisas sem pensar. A falta de reflexão sobre si mesmo e, consequentemente, a total falta de critério sobre o mundo ao redor vão nos transformando em defensores de ideias vazias.
O “penso, logo existo”, cedeu lugar ao “opino sem pensar, logo sou visto”. Eu desisto.
Ainda olho estarrecida esse negócio de blogueira “influencer”, só para dar um exemplo. Gente alçada à celebridade incentivando o consumo desenfreado. E as grandes marcas batendo palma para a praga de superficialidade entranhando-se cada vez mais no mundo.
Tenho amigos com a maior boa vontade que vivem me dizendo que meu blog tem que falar disso ou daquilo. Que preciso fazer vídeos engraçados. Pois “assim terei audiência”. Não tenho nem a quantidade de amigos no Facebook curtindo minha página da Crônicas de Paris. Não tenho a pretensão de atingir o mundo dos milhões de seguidores.
Minha busca é ser minimalista das palavras ditas. Falo demais. Isso é antiecológico. As pessoas não querem, não precisam e vivem muito bem sem o que “tenho a dizer”. E tenho cada vez mais questionado essa de “ter o que dizer”.
Principalmente porque eu sou daquelas que sempre procura preencher os vazios de silêncio com a fala. Morreu o assunto? Lá vou eu falar do tempo, perguntar qualquer coisa para abraçar o espaço com sons.
Quero mudar. Tenho tentado fazer meu processo minimalista neste aspecto. Ouvir mais, falar menos. Receber os silêncios. Receber as outras comunicações não verbais. Claro que a escrita é a minha escolha de expressão, vou continuar escrevendo. Mas quero e preciso falar menos.
Talvez o desencadear do pensamento, assim como acontece com a música, necessite de pausas para ligar as notas e gerar a melodia do saber-viver. E os conflitos cederiam ao entendimento. E a razão conduziria as emoções numa dança harmônica. Tudo isso graças às pausas de silêncio.
E o que isso tudo tem a ver com Paris? Nada, mas eu ainda falo por falar…
2 comentários
Você é maravilhosa. Lindo e verdadeiro o que você escreveu.
… pra você, querida cronista afrancesada, deixo o meu mais sincero e solidário blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá-blá…
Também sou desses que não se rendem as mortes dos assuntos!