A faxina sem água – ou a vida sem sabão de coco

Para uma brasileiro, acredito que existam poucas coisas tão incômodas ao emigrar para Europa quanto a questão de limpeza de casa. E nem estou falando do custo de faxineiras ou empregadas domésticas e nem do esforço do “faça você mesmo”, que muitos privilegiados no Brasil passam a encarar na vida do outro lado do oceano.

Para começar, quem nasceu, cresceu e viveu no Brasil dificilmente pode imaginar banheiro ou cozinha sem ralo. Área de serviço, então, não existe e tanque é, para a maior parte dos europeus, um objeto medieval ou algo que não viram nem em livros.

Além de outro drama: aqui não tem sabão de coco, até hoje o melhor produto para tirar gordura de louça e lavar roupas na mão.

Os deuses – se existirem – são testemunhas da angustiante missão de limpar chãos e azulejos sem jogar água, sabão, esfregar com uma boa vassoura piaçaba e, depois, fazer escoar aquela sujeira pelo cano, com a ajuda de um outro amigo inseparável: o rodo.

Pois bem. Ao precisarmos quebrar os primeiros paradigmas, os amigos locais nos consolam: há produtos de limpeza incríveis, a sujeira sai sem esforço, uma beleza. Eu, ingênua, acreditava nos rótulos. Mas na hora de limpar, decepção. Para os padrões verde-amarelos, falta o brilho só proporcionado por água e sabão e o cheirinho de Pinho Sol.

Mas é preciso estar aberta quando se faz uma mudança tão radical de vida. Não seria a dificuldade com a faxina o obstáculo a me derrubar. Acabei aceitando o novo modelo de limpeza um tanto fosca.

Também gastei uns bons euros, até chegar aos panos umedecidos e desinfetantes à base de essências de lavanda e limão, o mais perto que cheguei do agradável odor de casa limpa.

Agora, existe algo com o qual dificilmente vou me conformar: a água com calcário. Tudo bem abrir mão de lavar com água, mas ter em casa uma água que suja!? Sim, senhores. A água na França que sai das torneiras é potável e podemos beber sem susto. Em compensação, deixa uma crosta branca, que vai amarelando e, se acumular, fica preta.

A porta do boxe, o cano no fundo do vaso sanitário e alguns outros cantos são os piores. Mas louças e torneiras também ficam prejudicadas na aparência, tudo por conta do maldito calcário.

O caso é tão sério que existe um produto de limpeza para finalizar a faxina que nada mais é que água sem calcário!

Nem em meus devaneios mais loucos poderia imaginar um dia precisar lidar com uma água que…suja! E ainda comprar uma outra água, engarrafada, só para limpar os efeitos da água da torneira…

Eu trocava todos os sabões de coco do planeta por uma água sem calcário.

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