Outros Carnavais

Por Ana Paula Cardoso

A sensação térmica em Paris neste domingo é de 6 graus negativos. O dia está lindo e mereceu uma corridinha às margens do Sena. Restou isso. A gente não pode sentar-se à mesa de um café, nem pegar um cineminha e nem encarar uma pista de ski.

Remeto-me a outros Carnavais. Tem aquele do primeiro ano da vida de imigrette, no qual meti uma fantasia de pirata, com direito a papagaio de espuma e tudo colado no ombro. Fez um sucesso danado, a TV queria me entrevistar, mas fugi sambando: “não posso, sou jornalista e trabalho na concorrente”.

Teve a fantasia de deusa Grega do segundo, toda improvisada. Teve o ano da Chapeuzinho Vermelho que encontrou o Lobo Mau. Teve confetes e serpentinas. Teve rompante de choro ao lembrar do Salgueiro entrando na Sapucaí. Teve lágrimas discretas ao ouvir os versos das marchinhas “pode me faltar amor, que disso eu até acho graça”. Teve risada entre amigos brindando nos copos de papel “que nunca nos falte a cachaça”!

Teve até Aznavour e sua “La bohème” ao ritmo de pagode.

Tudo isso no baile do clubinho parisiense. Frequentado todo ano e que trazia a ingenuidade de um Carnaval intimista, já na ocasião muito difícil de encontrar num Brasil de Salvador, Rio e Recife. (E agora até São Paulo). Super Escolas de Samba (e blocos!) S.A., super alegorias. Escondendo gente bamba. Que covardia! Já dizia o velho samba enredo…

Paris tem coisas muito boas, mas nunca teve o melhor Carnaval do mundo. Para aquecer a saudade dos amantes da festa de Momo a cidade nos oferece poucas opções, mas que, vamos lá, com muita abertura de espírito, dava para aquecer a alma e brincar um pouco. Um baile num clubinho alternativo era a melhor delas.

Hoje eu sonhei com a Velha Guarda da Portela e acordei procurando os confetes em meu travesseiro.

Mas neste estranho e gelado fevereiro de pandemia, não há espaço para a folia.

As máscaras deixaram de cobrir o entorno dos olhos e escondem agora narizes e bocas. Adeus aglomeração. Adeus cheiro no cangote. Adeus partilhar o latão. Adeus madrugada no streaming ligado na Apoteose. Adeus french kiss

Resta ao meu vermelho coração salgueirense bater ao ritmo de Saint Valentin, o Dia dos Namorados do hemisfério norte.

Saudade se mata com amor. Evoé, les amoreux!

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