Mancha entre nós

Entro na lanchonete vegetariana da famosa Portobello Road. São 10h da manhã numa Londres cinzenta, onde cai uma garoa fininha. Pergunto se tem a pizza vegetariana, uma delícia a qual tenho vontade de apresentar ao companheiro de viagem. Era minha ideia para o café da manhã.

– I’m afraid not, sweet (“temo que não tenhamos, meu doce”, na tradução ao pé da letra). Mas temos esse empanado integral aqui. Acabou de sair do forno.

Aceito a substituição oferecida de forma tão amável. Na hora de pagar, pergunto se tem café.

– We just have cold drinks, darling. You can get your coffe at the other side of street. There is a coffe shop there…

O “darling” fica martelando na minha cabeça. Morando há 3 anos na França, ouvir um “querida” de uma atendente de loja, acompanhado de um sorriso e de uma preocupação genuína em me ajudar, parece coisa de sonho.

Podem dizer que nada sei. Afinal, não moro em Londres, cidade grande onde certamente há agruras e muitos momentos de estresse. Também já estou acostumada a levar pedras quando me ressinto daquilo que não é legal em Paris e resolvo criticar a falta de cordialidade local.

Então, com a couraça cascuda de quem não está na vida para se tornar uma unanimidade, mais uma vez vou dizer: toda vez que viajo, algo me salta aos olhos e percebo o quanto sinto falta de simpatia.

E se simpatia é quase amor, como me ensinou o Carnaval carioca, falta amor em Paris. Enquanto em Londres o amor transborda. As cIdades têm suas rivalidades históricas e nem tenho intenção de fomentá-las ainda mais . Como Entre Rio e São Paulo, Los Angeles e Nova York, Montevideo è Buenos Aires, elas, no fundo, nutrem admiração uma pela outra.

O que uma tem, falta na vizinha. E vice-versa. Ideal seria podermos juntar tudo o que há de bom em cada uma e fazer aquela mistura. De Londres, traria o sorriso espontâneo. De Paris, um “quê” de cidade provinciana que falta à cosmopolita capital inglesa.

Poderia listar uma série de outras características, mas hoje vou ficar por aqui. Há uma cidade sorridente me esperando sob um céu nublado, e é preciso desfrutar de um humor sarcástico e delicioso, só encontrado do lado de cá do Canal da Mancha…

(Londres, 16/07/2017).

 

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3 comentários

  1. Ah, viva a pluralidade. Em toda a parte. Ternura é universal. Já fui hostilizada em londres. E também já fui generosamente acolhida pelos parisienses quando tive dúvidas para me deslocar pela cidade. Ternura é universal. <3

    1. Faço o desafio: vem morar aqui e depois me conta. 🙂

  2. Pode parecer delírio, mas acho Londres uma cidade tão carioca !!! Ok, lá não tem praia e nem céu azul, mas o clima dos pubs é igual ao dos barzinhos do Rio!! Ou não???