Um amigo, que mora fora de seu país de origem, está com uma hóspede em casa. Coisa corriqueira na vida de um expatriado. A prima em questão é ótima, eles se amam e têm várias afinidades. Mas (sempre há um senão) o amigo me relata.
– Cheguei em casa do trabalho e ela me recebeu super falante, e me disse “comigo aqui você ao menos tem alguém para conversar, é chato chegar em casa e não ter com quem falar”. E eu pensei: não, não é chato não.
Para ele, chato é ter alguém com quem conversar quando não se está com vontade. Esse amigo está longe de ser um sociopata avesso ao contato humano. Ao contrário, trata-se de um dos caras mais sociáveis da face da Terra. Apenas o moço gosta de ficar só.
Eu super entendo a necessidade de se respeitar a individualidade. Ainda assim, prefiro compartilhar a maior parte dos momentos da vida. Daria inclusive uns trocados só para saber como funciona o cérebro de um simpatizante da solidão. Até para ver se existe uma fórmula para a estimulação do prazer em estar só. Afinal, o mundo anda para lá de individualista.
Da minha parte, sou uma entusiasta da convivência. Acredito na interação entre pessoas como a melhor forma de crescimento individual. Não conheço nada mais capaz de provocar uma revolução humana do que relacionar-se. E, acreditem, não estou me referindo somente às pessoas legais, aos entes amados.
O provérbio antes só que mal acompanhado é uma fórmula mais fácil, admito. Mas, confesso: por vezes prefiro estar acompanhada de alguém razoável do que estar só. E não pelo fato de querer fugir de mim, ou “não suportar a minha própria companhia”, como diria um psicanalista. Apenas acredito de verdade no fato de até – ou talvez principalmente – pessoas desagradáveis poderem nos ensinam a viver melhor.
Na vida longe das raízes de uma imigrante, o peso de estar só por vezes dá uma derrubada. Nessas horas, aplico uma solução prática para não continuar na lona: saio pra passear. Acabo vendo tanta gente e começo a observar as pessoas. Já espantei a solidão. Até crio histórias sobre as vidas de gente sobre quem não tenho informação alguma só para sair um pouco da presença exclusiva de mim mesma.
Em diversos destes momentos, é bem possível conhecermos alguém. Conversarmos, trocarmos ideias. Em outros momentos, apenas contemplamos a vida dos outros. E a mágica de se entregar ao mundo fora do nosso quebra a equação do sozinho sou, sozinho estou e ser sozinho me restou.
E num mundo com mais de 7 bilhões de possibilidades de interação, constato: uma única cidade pode nos ser a melhor das companhias. Paris, com seu jeito tão particular de se adaptar e agradar quem a ama, está aqui para não me deixar sozinha…
2 comentários
Gostei. Me lembrou “Noites Brancas”, de Dostoievsky…
Super, felina. As pessoas desagradáveis, como as experiências desagradáveis, nos ajudam mesmo a evoluir. A ver como a vida (salvo elas!) é boa. :o)