Todas as línguas do mundo

Chego em Toulouse sem saber de nada. A vida corrida nem sempre deixa tempo para a pesquisa sobre o destino de um fim de semana prolongado. O jeito é viajar no escuro. Mas pela capital da região francesa de L’Occitanie eu já nutria uma simpatia. Professora de francês no Brasil, minha mãe veio para cá fazer uma especialização na Universidade local, no remoto ano de 1984.

Enquanto minha progenitora se engrandecia profissional e culturalmente, a garota carioca de 14 anos tirava alguns meses da férias maternais, no auge da adolescência. Ficamos sob a guarda de um pai cuca fresca e na ausência da autoridade matriarcal (sempre mais vigilante), em pleno verão no Rio de Janeiro. Então, como não amar Toulouse?

A cidade medieval, que virou rota de ricos mercadores, em função de um rio que desembocava no mar e evitava que os navios passassem pelo estreito de Gibraltar no século XVI, virou uma referência na minha família. Em um tempo pré-Globalização, quando voltou, minha mãe levou para casa mais que fotos e presentes, mas histórias, vivências e impressões – quando esse tipo de informação ainda não brotava em pencas nos trip advisors da vida…

Mas de todos os registros daquela Toulouse do século passado, uma coisa havia se apagado de minha memória: a língua local, hoje apenas um dialeto pouco usado, chamada Occitan. A cidade toda tem as placas de ruas em francês e em occitan. E eu me apaixonei por essa outra filha do nosso latim.

Uma amiga, aluna da Sorbonne e estudiosa de línguas, já havia me contado sobre l’occitan ser a língua dos trovadores. Reza a lenda que os músicos-poetas a usavam para não serem compreendidos pelos maridos (todos os casamentos eram arranjados no tempo dos feudos) e, assim, poderem fazer a corte a suas amadas. Como amor não rimava com casamento na época, cortejar era a expressão sublime da trova romântica. E os trovadores transfomaram l’occitan na língua oficial para expressar o mais nobre dos sentimentos.

Eu não sei se vocês brincavam disso, mas até hoje eu brinco de pensar nos três desejos que pediria para o gênio da lâmpada realizar. Na ordem regressiva, do terceiro ao primeiro, os meus desejos seriam assim:

Desejo número 3: amor correspondido. Acho que isso resume minha maior expectativa em um relacionamento: amar e ser amada. Simplesmente.

Desejo número 2: que meus amigos, amores e família nunca morressem precocemente e muito menos de doenças degenerativas ou mortes violentas. E que os mais velhos sempre fossem embora antes dos mais novos, seguindo a ordem natural da vida.

  • E, finalmente, o desejo número 1: falar, ler e escrever fluentemente todas as línguas do planeta. Ou do universo, caso existam extraterrestres.

Ao encontrar-me com o Occitan em Toulouse tive a certeza que conhecer todas as línguas do mundo me faria, realmente, a pessoa mais feliz da Terra…

(Toulouse, julho 2017)

 

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1 comentário

  1. Superou-se… que lindas as comparações de de sua adolescência até os dias de hoje em sua feliz jornada!