Nós sempre teremos o Carnaval…

Na hora que a saudade bate ninguém sabe explicar a sensação de vazio a preencher o coração de um expatriado.  Essa contradição, do manter o pé em um lugar e o sentimento no outro, tem razões psíquicas, atávicas, genéticas, culturais, antropológicas, enfim, razões que a própria razão desconhece.

Tirando aqueles que não têm escolha – exilados políticos, refugiados de guerra – quem saiu da terra natal em busca de outras paragens está em outro lugar por livre e espontânea vontade.

Mas a grande verdade é que nem mesmo a  mais cartesiana das almas conseguirá passar incólume por alguma derrapagem na curva da emoção. Conheço gente centrada e determinada que, morando fora para um mestrado, me pediu para levar ‘biscoito de maisena, mas o da Piraquê, o da embalagem vermelhinha’ (acredito que aqui só os cariocas vão entender).

As pequenas coisas para as quais não dávamos a menor importância quando estavam ali, bem ao alcance das mãos, ganham um valor de gênero de primeira quando deixamos a Pátria Amada. Eu mesma devo confessar: pedi sabão de coco ao primeiro amigo a visitar Paris depois que aqui comecei a  viver.

Estamos em pleno Carnaval. Nem precisa ser o mais bem-informado dos seres viventes para saber que, no hemisfério norte, a festa momesca não é festa. Muito menos momesca. E os corações cariocas, baianos, pernambucanos e outros ‘anos’ sofrem. Tenho uma amiga, bem instalada na sua vida e rotina lá em Nova Iorque, que faz greve de redes sociais durante o Carnaval. Entendo. É duro olhar para o chocolate quando estamos de regime.

Mas aí a gente descobre subterfúgios. Um bailinho de salão, tocando marchinhas antigas e muito samba aquece o coração carioca expatriado. Que delícia ver franceses declarando seu amor ao Brasil e a esse lado tão característico: nossa capacidade em fazer festas populares;

Dançando ao som de ‘La Bohème’, canção francesa imortalizada por Charles Aznavour, em ritmo de samba, ao lado de franceses e brasileiros fantasiados, não resta dúvida. Aqui, lá, em qualquer lugar, nós sempre teremos Paris…ou melhor, nós sempre teremos o Carnaval…

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3 comentários

  1. Excelente! Lendo essa cronica posso sentir exatamente como estar limitada a participar do Carnaval,seja a distancia em outras terras ou por uma cirurgia, como no meu caso!Que saudades me bateu e logo eu,que nem me ligava mais nessa festa!! É isso cronista que vc tão bem focou!!

  2. Oi querida, adorei o seu artigo, Quando puder, me escreva. On va prendre un café?