Tratado sexual parisiense

 

Flanar. Beber vinho. Mergulhar no vasto universo da moda,  arte e cultura. Comer bem. Todos os clichês de Paris parecem convergir para a estrada rumo ao hedonismo. Aqui espera-se pelos fins de semana como um réu pela sentença. As “vacances” (férias anuais de quase dois meses no verão) são o sentido da vida para a burguesia da Cidade Luz.

E se à mesa as papilas gustativas entram em polvorosa com croissants, madeleines, macarons e afins, na cama as iguarias típicas locais são uma bela surpresa. A começar pelo tamanho da baguette. Não se iludam com as silhuetas esguias e a falsa magreza evidente.

Embora ainda não haja estudos científicos confirmando, apostaria no resultado da pesquisa empírica: todas calorias ingeridas pelos rapazes parecem ir para uma única parte de suas anatomias. Uma parte que, diferente de culotes ou baixo ventre, cai muito bem quando é mais protuberante…

Já as meninas – com seus ares de enfado -, confidenciam-me amigos, guardam seus sorrisos para os momentos de alcova. Pouco provável ver mulheres parisienses vestidas de maneira exageradamente sexy. Mas não desanimem, incautos! Deem só uma olhada nas vitrines das boutiques de lingerie em cada esquina de Paris. O lado “coquine” (safadinha) elas reservam aos privilegiados, entre quatro paredes…

No país da liberté, puritanismo não combina com sofisticação. Assim como libertinagem pode ser assunto trivial numa soirée (reuniãozinha na casa de amigos) clássica, dar flores e andar de mãos dadas na rua – ou mesmo ir a cinema ou restaurante – acontece mesmo entre “sex friends”, sem criar jurisprudência de relação séria nem configurar namoro.

Fazer sexo é permitido, apreciado e faz parte das coisas boas da vida. Dificilmente vão julgar alguém por sua orientação sexual ou preferências ou frequência e número de parceiros. Não se tratando de sexo forçado ou pedofilia, todo sexo consentido não será castigado.

Os parceiros para tal? Na rua, na exposição, na varanda do café, num aplicativo de encontros – ou atravessar a Pont Neuf (não me perguntem por que, mas funciona…). E o melhor: sem nenhuma restrição à idade. Homens viúvos de 80 anos namoram mulheres desimpedidas de 74. Aqui parece ser um pouco mais equilibrado a formação de casais na mesma faixa etária, embora nada exista contra a diferença de idade.

Aos mais ousados, não faltam casas libertinas. Desde saunas até boites animadas, ambientadas especialmente para darem vazão às fantasias. Troca de casais, sexo em grupo, exibicionismo e voyeurismo, sadomasoquismo, ou apenas uma espiadinha curiosa, fazem parte de um universo discreto, mas presente em cada um dos 20 arrondissements da cidade onde seu monumento mais visitado é um símbolo fálico.

Para quem aprecia o esporte, passar no maior sex-shop da Europa, o Sexodrome, é um verdadeiro parque de diversões. Além da loja com 3 andares, a casa tem anexos como um clube de práticas avançadas, sauna e casa de shows eróticos. Tudo ali no 23 Boulevard de Clichy, a mesma rua que abriga o icônico cabaré Moulin Rouge – a casa que lançou a lantejoula e a partir de onde a sensualidade de Paris passou a ser conhecida no mundo inteiro.

Numa cidade onde sexo é tratado com tanta naturalidade, há momentos em que os choques culturais afloram. Sinceridade em excesso, como o cidadão acordar reclamando que sua cama não é tão boa e ele está com dor nas costas, acontece e pode ser brochante. Mas para tudo existe um lado positivo.

Como no caso de alguém sentir um cheiro de queijo francês quando o moço ou moça tirar a roupa. Embora os parisienses médios, na sua maioria, sejam cheirosos e tomem banho ao menos uma vez por dia, pode acontecer de encarar alguém com a validade vencida…

A dica é usar da mesma sinceridade, fazer cara de paisagem e dizer naturalmente “il faut pendre une douche” Você verá que um enfant de la patrie não foge à luta. Para fazer valer a fama de cidade do amor, o parisiense vai enfrentar o chuveiro e mostrar, com maestria, como se dança o can-can…

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