Com o céu azul pegando fogo

O céu parisiense irradia um azul celeste a ponto de ofuscar os olhos. Pego os óculos de sol e parto para desfrutar dos trinta graus Celsius em Paris. A sensação térmica  é o equivalente a 40 graus no Rio de Janeiro. Digo em termos de beirar o insuportável. Porque a cidade de Paris não foi feita para o verão. Pronto falei.

A prefeitura faz seus esforços. Abriu até um “piscinão”, pegando uma parte do canal d’Ourcq para os banhistas. Mas nem me atrevi a entrar na água. Na placa com orientações sobre segurança está escrito “há risco de se adquirir leptospirose”. Uma pessoa com fobia de rato como eu desiste na hora.

Houve avanços após o canicule de 2003, a onda de calor que pegou os franceses desprevenidos e matou cerca de 20 mil pessoas ao lhes apresentar a sensação térmica do deserto do Saara, tão habitual aos habitantes dos trópicos. Apesar disso, para meu gosto, Paris bom é Paris no inverno. De preferência Paris com neve. 

Para começar, quase nenhum lugar dispõe de ar condicionado. E quando há, existe uma galera pouco acostumada à climatização que, pasmem, prefere o ambiente abafado. Entrei, por exemplo, na ótica onde faço meus óculos e não acreditei. Um calor desgraçado na rua e a mocinha do balcão resolve desligar o aparelho. Eu me espanto e pergunto o motivo. “A senhora não está achando muito frio?”.  Não, não estava.

Já detectei que por aqui o ar condicionado nunca é forte. A gente entra num centro comercial, numa loja ou supermercado e a sensação é que os ar condicionados locais estão sempre na ventilação. Olha, e eu não estou exagerando quando falo que está quente.  A empresa de metrô já distribuiu água nos trens outro dia. Tem ONG dando frutas e água mineral para os moradores de rua. 

E mesmo assim, o povo sai de casaco na rua!!!! Parece o Cesar Maia, um antigo  alcaide carioca cuja marca registrada era estar sempre vestido de um casaquinho Lacoste azul-marinho em pleno verão. Aqui as pessoas usam calça, blusas de manga comprida, sapato fechado. Acho que são répteis e dispõem de um sistema de resfriamento próprio, só pode… 

Perguntei aos franceses que raio de apreço ao calor é esse. “Deve ser porque estamos cansados do frio e sentir calor nos faz bem”. Ouvi de alguns. A questão está resolvida: o problema sou eu mesma. Não gosto de Paris em agosto e pronto. Além de ter uma debandada geral dos locais que partem de férias, tem esse calor cultuado por quem fica por aqui. 

Saio pelas ruas cantando “Meu Deus mas que calor, mas que calor na bacurinha”, sucesso da Maria Alcina que eu postei o vídeo ali embaixo para quem não conhece. Os amigos locais me perguntam “Mas o que vem a ser ‘bacurinha’?”. Não posso traduzir porque não tenho a menor ideia. Só sei que, seja a bacurinha quem for, ela está pegando fogo aqui por Paris neste mês de agosto…

https://www.youtube.com/watch?v=fHJxKxZKAeg

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