A velha e a nova Paris

Copyright foto: Ana Paula Cardoso

Já era moradora de Paris, havia algum tempo, quando fui dispensada por um grande jornal brasileiro para o qual eu escrevia diariamente sobre Paris em um de seus blogs. No e-mail enviado pela editora, ela me agradecia pelos serviços prestados e justificava o fim deste trabalho da seguinte forma:

« O jornal está com um novo projeto editorial e, sabe como é, né? Não cabe mais falar de Paris, uma cidade velha a. »

Confesso que ri.

Claro, está longe de ser uma sensação gostosa perder um trabalho, principalmente quando a profissão de jornalista anda sendo substituída por detentores da terminologia « influencer ».

Mas o choque de receber palavras de uma editora de caderno feminino, com a afirmação de que Paris estava “démodée” só conseguiu me levar ao riso. Creio ter caído naquele fatídico momento, tão bem analisado pelo filósofo francês Henri Bergson em seu ensaio “O Riso”: o choque entre crença e ciência.

Não sei qual das duas estava na crença. Deveria ser eu, certamente. Afinal, uma editora de um grande jornal teria dados, estudos de mercado ou outros indicadores a apontarem a queda de Paris no gosto da sociedade contemporânea.

Eu dispunha apenas de minha singelez empírica: só tinha como dados as semanas de moda e design, os eventos de gastronomia e culturais, os “looks do dia” desfilando nas páginas das “instagrammers” de moda, além de estatísticas mostrando ser Paris a terceira capital mais visitada do nosso planeta.

Ainda entristecida, naquele dia decidi continuar a me dedicar à velha cidade da qual resolvi fazer parte. Sem muita noção de modernidade, recorri ao ofício ainda mais velho: escrever crônicas. Sem nunca ter feito um esforço sequer de marketing, ganhei mil seguidores nesta página, na qual você se encontra neste momento e lê.

Um dia um amigo, antigo morador da cidade, retornou à capital francesa para uma visita. Em meio ao nosso almoço, me disse:

= Você precisa fazer vídeos. Leitura é coisa velha. Ninguém mais lê.

Embora as mensagens que receba, dos mais variados cantos do mundo lusófono, de gente que nunca vi me narrando o prazer que a leitura de minhas crônicas proporcionaram, respondi ao amigo com outro argumento:

= Mas eu não entendo dessa linguagem de vídeo…
= Para de bobagem. Você sabe se comunicar e tem Paris, essa cidade que sempre nos renova!

Ainda confusa pela dicotomia entre o conceito de cidade velha que renova, amadureci a ideia.

Porque, não podemos negar, Paris talvez seja a cidade mais cheia de clichês do oeste. Mas ela consegue ter ainda um frescor inato à juventude. E nessa mistura de velho com novo, tem a capacidade de nos surpreender sempre, mesmo quando o tema é lugar-comum. Concluo o quanto a velha cidade ainda atrai gente nova.

Deve ser porque envelhecer é sempre uma coisa nova. E a juventude é sempre algo velho para quem já saiu da meninice. Minha juventude é coisa velha. E a velhice, que começa a brotar agora aos 50, é ainda uma grande novidade para mim. Ser nova é coisa velha, ser velha é coisa nova.

E assim, nessa contradição das almas inquietas, eu convido chego ao fim deste crônica convidando a uma inovação: oferecer o Crônicas de Paris em programas de vídeos.

A chamada está aqui em baixo e, a partir do dia 7 de setembro, dia da Pátria Amada, teremos, a cada domingo, novas histórias sobre a velha Paris.

Em tempo: o canal Crônicas de Paris já está disponível. Acesse clicando no link da plataforma ClickTube,

Veja nossa chamada no vídeo abaixo:

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