Caramel


Uma vez vi uma cena marcante em um filme argentino, do qual, infelizmente, não me recordo o nome. Um tio ensinava ao sobrinho, adolescente, como conquistar a menina pela qual o garoto se apaixonara. O homem maduro parecia transportar-se delicadamente ao momento de sua própria vida no passado. Aquele no qual todos os meninos (ou melhor, somente os normais) passam um dia: a descoberta do primeiro amor.

O tio, com ternura, vai desfolhando as lições. Converse com ela, pergunte como ela se diverte. Interesse-se de verdade pelas coisas que ela ama. Ajude-a em pequenas tarefas. Quando o vento bagunçar seus cabelos, retire delicadamente os fios que cobrem os olhos e os coloque para trás da orelha. Elogie suas orelhas. Ela vai rir. E aí, elogie seu sorriso. 

Olhe em seus olhos sempre quando ela estiver falando. Nada ao redor deve distrair a atenção de um homem quando ele realmente ama uma mulher. E então, o personagem do homem, por volta  dos 40 anos, parte para a lição definitiva.

O grande erro dos homens na sedução é a precipitação, diz o mestre ao discípulo. Ou deixar passar o momento preciso por medo da rejeição, ensina o tio. Perder o timming no amor pode botar tudo a perder.

“O amor recíproco é a perfeição. É como preparar uma sobremesa: se deixar muito tempo, o açúcar queima. Se apagar o fogo antes, o sabor desanda. O segredo é encontrar o ponto caramelo de sua amada, e, então, desfrutar com ela a sofisticação máxima do prazer e do afeto”, conclui o personagem mais velho ao sobrinho, já embevecido com a lição preciosa.

Degustando um caramel beurre salé, doce tipicamente francês, que nada mais é que um caramelo com manteiga salgada inventado por deuses bretões ou normandos (até hoje Bretanha e Normandia brigam por quem faz o melhor) eu tenho certeza: o melhor sabor do mundo é o do amor correspondido. Tão bom quanto o gosto do caramelo.

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2 comentários

  1. Mais uma beleza útil encontro nestas preciosas crônicas que você semeia. Saborosa como um caramelo!