O jornalismo não morre jamais

Notícias falsas (fake news). Desqualificação das médias. Empresas jornalísticas demitindo jornalistas experientes. Repórteres se arriscando em cobrir conflitos ou sendo ameaçados por poderes paralelos. Redes sociais fazendo as honras de fontes de notícias. Essa são apenas algumas etiquetas do cenário no qual o jornalismo tenta equilibrar-se para manter aquela que é a sua maior função social: levar ao público geral informação clara, bem apurada, verdadeira e imparcial.

Não por acaso, a Sorbonne, mais tradicional universidade da França e uma das mais conceituadas do planeta, abriu as portas do salão do século XVIII para debater o tema “Les enjeux sociaux des mutations du journalisme dans le monde” (As questões sociais das mudanças no jornalismo no mundo). A quinta-feira (8/03) reuniu quatro especialistas de outras universidades do mundo e mais o mediador,  Kévin Thomas-Paris, professor da instituição anfitriã .  Apesar de um cenário de crise, os especialistas apontaram esperança.

“Nos Estados Unidos, estamos vivendo uma era muito particular. Todos ficaram muito surpresos com a eleição de Trump, inclusive ele mesmo. Mas eu sou da geração do Watergate. Aquela experiência serviu para aprendermos o quanto esse momentos de crise são importantes para resgatar o jornalismo naquilo que ele tem de melhor”, acredita LynNell Hancock, professora de jornalismo da Universidade de Columbia, EUA.

Jornalista voluntário?

Já para a professora Sandra Vera Zambrano, professora de comunicação da Universidade Iberoamericana de México, os caminhos podem ser mais árduos. Ela contou a realidade mexicana, onde a precariedade do trabalho de jornalista é caracterizada por freelancer – praticamente não há trabalho com carteira assinada. Os profissionais  ganham salários em média de 400 euros e ainda precisam dispor de todo o equipamento de trabalho – como computadores, máquinas fotográficas ou smartphone de última geração.

Ela apontou ainda um outro fenômeno: jornalistas provenientes de famílias de classe alta, ou casados com algum milionário, que vão trabalhar nas empresas jornalísticas visando apenas ao prestígio. Como não precisam de dinheiro para viver, aceitam o valor oferecido pelas rádios, jornais e TVs e isso acaba empurrando o piso da categoria ainda mais para baixo.

problema das informações veiculadas pelo Twiiter ou Facebook é que, ali, a opinião vem antes da informação.

“Hoje penas 18% dos estudantes de jornalismo seguem a profissão após a formatura. Sem contar os riscos de quem vai cobrir problemas de narcotraficantes. Hoje o México é o terceiro país com menos segurança para o trabalho de jornalista”, conta Sandra. Outro aspecto levantado pelos debatedores na noite foi a questão das redes sociais como inimiga do jornalismo.

“O grande problema das informações veiculadas pelo Twiiter ou Facebook é que, ali, a opinião vem antes da informação. Temos que levar a escola aos jornais. Educar as crianças sobre a importância de se apurar uma informação, da consulta de fontes sérias. Não tenho respostas mágicas. mas aliando o que é a essência desta profissão com a educação do público, o jornalismo não morre jamais”, completou a professora da Columbia.

Também participaram do debate Guiliano Bobba, professor de comunicação e política da Universidade de Turim e Frédérick Bastien, professor de comunicação e política da Universidade de Montreal.

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