Pedaços de ‘nozes’

De qual massa nós somos feitos? Somos um resultado predestinado do determinismo genético ou uma configuração construída pelo ambiente no qual nascemos, crescemos ou vivemos? E as pessoas ao nosso redor? Quanto elas têm de influência sobre nossa composição de ser vivente, num planeta tão diverso, mas ao mesmo tempo tão cheio de elos a nos lembrar o quanto somos humanos, demasiado humanos. Complexos e simples. Distintos e semelhantes.

Eu gosto muito de brincadeiras bobas, como trocar nós por nozes. Lembro sempre de um vídeo viralizado há muitos anos de um rapaz muito simples, que não conseguia ler de jeito nenhum um texto bíblico no qual precisava falar “o jardineiro é Jesus e as árvores somos nós”. Ele sempre errava e dizia “as árvores somos ‘nozes'”. Eu achava mais do que graça, achava fofo. O plural de nós não existe porque é uma palavra que já é a primeira pessoa do plural, equivalente em pluralidade do pronome pessoal eu.

No entanto, quantos ‘eus’ caberiam em nós? E quantos nós caberiam em ‘nozes’? Somos eu em quais momentos nesse jogo teatral que é a vida? Quanto eu sou – ou tenho – daqueles com quem convivo ou convivi? Quanto de monólogo há nos nós e de diálogo nos ‘eus sozinhos’ mundo afora? Quanto trazemos de nós e deixamos de eu ao vivermos longe do nosso chão?

Onde é o lugar desse eu no universo, quando o nós se desfaz? O nó do vínculo familiar, o nó das raízes culturais ou o nó do amor incondicional. Eu parto, nós nos separamos. Eu fico, nós sentimos falta. Eu choro, nós enxugamos as lágrimas.

Uma frase postada em rede social de um amigo me chama atenção “Meu lugar no mundo não é um lugar, mas as pessoas”. Quando o eu vem e o nós fica. Ou o nós se rompe quando o eu vai, não importa se esse lugar é Paris, Chile, Síria ou Blumenau. Nós, em pedaços, como uma torta de nozes, nos vemos divididos e mexidos. E nesse repartir do outro em mim que há no eu, resta a sábia analogia da velha imigrante: não há como desfrutar do sabor sem cortar as fatias.

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