‘Gentes’

Tenho um primo casado com uma polonesa. Ela aprende português e, certa feita, ao hesitarmos a entrar num elevador, ela nos tranquilizou gentilmente “Podem entrar todos. Cabem 5 ‘gentes'”. A parte brasileira da família caiu na gargalhada e ela, meio rindo e meio desanimada perguntava “Ai, o que falei de errado desta vez?”.

Aprender uma língua não é nada fácil. E volta e meia escorregamos nas cascas de banana dos vocábulos que querem dizer a mesma coisa, mas nem sempre podem ser empregados da mesma forma. Gente e pessoa são sinônimos, mas no caso da capacidade de quantidade desta categoria no elevador, somente a palavra pessoa deve ser empregada.

Quando esse aprendizado se dá em meio a quem é fluente na língua que se está aprendendo, corremos o risco de sermos alvo de algumas situações. As risadas são o mínimo. No caso do deslize do ‘gentes’, virou uma piada carinhosa na família. Hoje, entre nós, substituímos o termo ‘pessoas’ por gentes.

Mas há uma situação bem particular do povo francês e que de nada ajuda na fluência do idioma de Molière: a correção fora de hora. Os próprios franceses com os quais convivo assumem o quanto trata-se de um esporte nacional. Falou um fonema nasal de forma gutural? Prepare-se para ser censurado. Pode ser inclusive na frente dos outros, pode ser numa roda social ou num jantar informal.

Não gosto deste hábito daqui. A maioria dos franceses alega querer ajudar quem erra. A mim não ajuda. Ao contrário: me inibe, me reprime, me faz regredir. Agora já sei me defender e digo “não me ajuda, deixa que a professora me corrige”. Em nenhum país que tenha conhecido vi esse tipo de comportamento.

Fico a refletir sobre os comportamentos incômodos da cultura local, quando se é expatriado. E vamos aprendendo a nos adaptar e a lidar com as ‘gentes’ diferentes que andam por aí…

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