Todos os caminhos levam ao outono

A crônica quase não saiu. Culpa do amanhecer deslumbrante me chamando pela janela. Paris tem destas coisas. A gente está numa manhã de sábado, cinzenta e gelada, fazendo uma prova de 4 horas no auditório da faculdade e, à tarde, já se está festejando o amor e a amizade com visitas de quem mora em outras paragens europeias.

O tempo passa rápido em Paris. Pergunte a qualquer pessoa que tenha vindo dos trópicos se o tempo aqui não é mais veloz. Esta é a sensação. O fim de semana não “dá para nada”. Nunca. Trabalhar, estudar, amar. A gente precisava de mais 10 horinhas, São Pedro. Quebra essa, vai?

Passou tão rápido o sábado. E domingo, caprichoso que é, não quis deixar barato: trouxe um sol deslumbrante até as 11 da manhã. Quem resiste? O companheiro que acorda ao seu lado propõe: “vamos andar e ver a paisagem de outono?”. De novo: quem resiste?

Outro dia pensava nessas expressões metafóricas para algumas situações corriqueiras. Meia-idade. Completar primaveras. Outono da vida. Eu não sei bem direito quando é o outono da vida, mas me parece próximo. Ou já estou nele e nem senti. Não importa.

O outono em Paris está do lado de fora, amarelando as folhas antes de se despedirem das árvores. É preciso sair de casa e contemplar essa explosão de cores quentes antes do inverno. Sentir o cheiro do outono. Aquecer o pescoço com o cachecol de outono.

Meus amigos do hemisfério norte preferem a primavera. Desconhecem o que representa a chegada do outono numa cidade quente como o Rio de Janeiro… mas, como costumo dizer, trazemos nós mesmos na bagagem e o outono continuou a ser minha estação preferida.

Outono acalma. Desacelera. Outono é a transição para aguentarmos a temporada mais gelada. Outono é suavidade. Pisando nas folhas que cobrem os caminhos na manhã outonal desta cidade iluminada pelo sol, entendi por que a maturidade é associada ao outono: é o tempo do andar devagar de quem já teve pressa e de apreciar o mundo ao redor, tantas vezes negligenciado pela ansiedade juvenil.

E se a vida tem uma certeza, é essa: se não morrermos antes, chegaremos ao outono. Então, que tal sair para enxergar a paisagem?

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1 comentário

  1. Minha primeira vez em Paris foi no outono, e foi exatamente como você descreveu: a cidade é deslumbrante, o tempo passa rápido demais enquanto nos perdemos em passeios demorados às margens do Sena, aproveitando a luz e as cores, sentindo o frio gostoso da estação. Voltei outras vezes a Paris, mas nunca mais no outono. Preciso consertar isso. Linda crônica, parabéns!