A Paris de cada um

Sentada na escadaria de acesso ao Panthéon, à espera de amigos brasileiros que, sem dados no celular, estão atrasados pois devem estar perdidos por Paris. Munida de um livro, sento-me no degrau mais alto para me recostar na coluna dórica. Abro o pequeno dicionário de citações de célebres franceses, contendo as explicações e a contextualização histórica dos aforismos. Aficionada por frases bombásticas desde a mais tenra juventude, grudo os olhos no livro.

A lembrança do objetivo fim de estar onde estou naquele momento me faz levantar os olhos para checar se os amigos já estão por ali. Olho para frente e vejo a vista. No horizonte, o céu cinzento é cortado pela torre Eiffel. Fico embevecida. Fecho o livro e contemplo.

Os pensamentos delineiam-se sem muita lógica, à medida que vou me dando conta ser esta, a Paris com a qual todos sonham, a minha cidade agora. Ainda atônita com a idílica vista presenteada aos meus olhos, pergunto-me sem esperar por resposta: até quando uma paisagem tão comum ainda irá de me causar encantamento?

Quando um lugar vira o nosso lugar, nos apropriamos dele sem cerimônia. Posso debochar de suas regras rígidas e burocracia estúpida. Sinto-me à vontade para apontar o excesso do mau humor, sem motivo, de sua gente. Estou autorizada a alertar sobre o cheiro desagradável do metrô. Mas no pacote das permissões do posto de cidadão parisiense, o deslumbramento súbito com a cidade é o bônus mais precioso.

Quando ainda sequer conhecia a Cidade Luz, li em uma revista especializada em turismo algo que jamais esqueci: não importa se é a primeira ou a décima vez na cidade, sempre haverá algo diferente a ser feito. Sempre haverá “uma dica imperdível” porque Paris, apesar de seus clichês, é uma Paris para cada um.

Quando se mora aqui não é diferente: cada experiência é única a cada morador. Para mim, ver a torre quando não estou esperando é a parte mais gostosa de morar aqui.

Assim como acontecia no Rio, quando a visão do Pão de Açúcar me fazia esquecer a ira pelo mortuária ter arrancado com ônibus enquanto eu subia no transporte, em Paris o meu momento sublime acontece quando a grande dama de ferro, imponente, aparece em ângulos pouco previsíveis.

Sim, ainda me impressiona a presença da Torre Eiffel. Pelos 20 arrondissements desta cidade tão icônica, a torre não é só um monumento supervalorizado, que leva milhões de turistas a montarem até seu topo, enfrentando filas intermináveis. Eiffel é a marca registrada de Paris. Como o andar de pés cruzados de Gisele Budschen, como a pinta no lábio da Cindy Crawford , como os olhos cor de violeta de Elizabeth Taylor, como os longos cabelos de Sonia Braga. Paris é uma cidade do gênero feminino e tem no seu monumento máximo o sinal de charme que não deixa dúvidas sobre isso.

Onde quer que se esteja ou andando por suas ruas, será quase impossível não vê-la em algum momento. Gosto desta sensação. E enquanto os amigos não vinham, fechei o livro e contemplei. O grande problema é justamente pelo fato de quando a cidade se torna nossa, esses momentos contemplativos são engolidos pela pressa da rotina e do dia a dia. Mas a paciência da espera me reafirmou a única certeza: preciso vir aqui e olhar essa vista mais vezes…

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1 comentário

  1. Também fiquei em choque quando vi a Torre Eiffel pela primeira vez, em um novembro gelado, mas de céu claro e azul. Foi uma emoção gostosa e marcante, um sonho realizado. Voltei outras vezes à Paris e sempre descubro novos ângulo e sempre me emociono. Mas a primeira vez…ahhhh, que experiência única!