O jeitinho parisiense de ser

Ouviu una bufada quando apenas pedira uma informação? Ou um ‘não rotundo’ quando perguntou ao garçom sobre a possibilidade da mesa perto da janela, quando ele lhe oferecera a mesa ao fundo, perto do banheiro, e só tinha você no restaurante? Ou foi corrigido na frente de todo mundo por um amigo francês, só porque pronunciou todas as letras da palavra Bastille – e ninguém entendeu porque se fala ‘bastiiiíl’?

Fique tranquilo, você não está sozinho! Todo mundo, incluídos os próprios parisienses, reconhecem essa antipatia histórica da gente local.

Como um Fla x Flu, a polarização domina entre quem ama Paris ou não gosta (porque ninguém consegue odiar, convenhamos) daqui. A cada reclamação do jeito pouco acolhedor do povo da Cidade Luz, imediatamente aparece um outro para amenizar dizendo “Ah. Não é bem assim. Eu seeeeeempre fui muito bem tratado lá”. Mas experimente espremer só um pouquinho. Logo logo vai escutar ‘ah, ok, mas é o jeito deles…’

Na verdade, os parisienses são mesmo tudo isso que falamos deles. A sua percepção positiva ou negativa vai depender apenas de algo muito simples: aprender a lidar com eles. Esse aprendizado passa por achar tudo isso muito engraçado. Ah, como é bom quando se atinge o estágio de conseguir rir desse ‘parisien way of life’!

Quando você acha graça e passa a rir ou criticá-los através da piada, não há parisiense que resista a se ver no olhar de um estrangeiro. Acreditem: madames, monsieurs e mademoiselles passam até a respeitar mais quem faz piada com esse jeitinho de ser parisiense. E isso pode ser comprovado em dois espetáculos que vem fazendo um estrondoso sucesso entre os locais ou aqueles até adotaram a cidade como sua.

Não por acaso, as peças “How to be a parisien in one hour”, texto e atuação do francês Olivier Giraud, e “Un New Yorkais à Paris”, levada pelo americano Sebastian Marx, estão em cartaz com teatro lotado em todas as sessões. Em ambas, vê-se ma crítica contundente ao jeito de ser considerado rude, arrogante, depressivo e reclamão do parisiense médio.

Olivier é um francês que morou nos EUA e Sebastian um americano de Nova York que vive há 10 anos na França. Usando como base de comparação as experiência em outros países, os dois ousam criticar comportamentos arraigados aos parisienses. Desde a ‘indiferença e grosseria’ de atendentes em bares, lojas e restaurantes até o apego à língua, que transforma o mais gentil dos amigos em professor severo a usar a palmatória a cada deslize fonético do francês falado pelo estrangeiro.

E, para minha surpresa, gargalhadas e espetáculos lotados. Sim, porque só vi parisiense gargalhando nas sessões destes dois espetáculos…Meu palpite é porque o francês sabe fazer crítica como ninguém. E ao perceberem que alguém consegue criticá-los de forma categórica, respeitam. E como o humor é artigo de luxo nas terras de Asterix, quando a crítica vem temperada com a  graça. aí é para respeitar e aplaudir de pé.

O jeitinho parisiense de ser tão pitoresco, tão peculiar e tão irritante, torna-se tão engraçado depois de dominar a técnica de debochar com sutileza. Porque é isso que o humor (ou a falta dele) de todo parisiense nos oferece de melhor.

^^

Veja a seguir os vídeos de alguns momentos das duas peças citadas no texto:

 

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